Ali estavam todos reunidos à volta da mesa. Olhares interrogativos sobre o que os levara a uma convocação de tal urgência. Tinham como certo que os últimos resultados obtidos não justificariam tal pressa. Se não ótimos, bons sem a menor dúvida. Mas ali estavam todos, enfatiotados, como determinado para reuniões de tal porte. E assustados. Isto podia ser observado no tamborilar na mesa de Agenor e no uso constante do lenço a enxugar gotículas de suor da testa de Marcos e ainda o piscar insistente de olhos de Turíbio sempre que se via à frente de questões relevantes que dependessem de suas decisões. Numa das extremidades da mesa, Coriolano mantinha-se de cabeça baixa, introspectivo. Era seu jeito de ser. Coriolano era o último a opinar, mas suas opiniões eram sempre acatadas por unanimidade. E tinha sempre à sua direita Herculano, submisso a balançar a cabeça afirmativamente às primeiras sílabas de suas exposições de motivos. Ali estavam as peças principais no tabuleiro. Todas não, pois faltava o rei, Adroaldo Barata, que se orgulhava em dizer que com tal equipe era difícil que alguém lhe desse o xeque-mate.
O silêncio era profundo quando irrompeu na sala "El-rei", como brincavam os colaboradores mais íntimos. Mais íntimos seria um exagero, pois todos sabiam muito bem que dr. Adroaldo não era homem de intimidades.
E tomou a palavra.
– Senhores, imagino que saibam o motivo de os ter convocado em caráter de urgência...
Todos assentiram pela força do hábito de concordar fosse com que fosse saído da boca de "El-rei", que prosseguiu:
– Fui desafiado pelos concorrentes a apresentar um tema que os obrigasse a reformular métodos que mudassem não só a estrutura de suas empresas, como os levasse a repensar suas próprias vidas. Passo aos senhores o desafio pela crença na capacidade de cada um. A reunião será suspensa por meia hora e cada um dos senhores se dirigirá às suas salas, de lá retornando com o tema proposto e a defesa de suas tese.
E Adroaldo "El-rei" Barata retirou-se, permitindo que os demais cumprissem o que lhes havia sido determinado.
Precisa meia hora havia se passado, quando um a um retornou à sala, trazendo nas mãos envelopes lacrados para serem encaminhados a "El-rei".
Como sempre fizera, Adroaldo tocou a campainha que dava início aos trabalhos. Pegou o primeiro dos envelopes, leu para todos o nome de Antero Quintanilha, seu fiel escudeiro, fez uso da espátula de marfim com cabo de prata sobre a qual tanto dissertava, pois fora com ela que seu bisavô preservara a honra da família das maledicências de um desafeto a macular sua santa bisavó, que a bem da verdade histórica nem tão santa tinha sido, e, após abrir o envelope, passou os olhos na folha com o tema e... caiu fulminado por um ataque cardíaco.
O papel caiu-lhe das mãos para baixo da mesa e no corre-corre ninguém mais se deu conta do tema.
No dia seguinte, o encarregado da limpeza recolheu a folha e surpreendeu-se com a leitura...
E somente ele, o mais humilde dos funcionários, ficou sabendo o tema que matara Adroaldo Barata.
Somente ele e Antero Quintanilha, o "El-rei", como passou a ser chamado.
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