Ali estavam todos reunidos à volta da mesa. Olhares interrogativos sobre o que os levara a uma convocação de tal urgência. Tinham como certo que os últimos resultados obtidos não justificariam tal pressa. Se não ótimos, bons sem a menor dúvida.
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Saturday, November 12, 2005
O TEMA
FLORIPES 2
Com seu inconfundível jeito apressado, caminhava pelo calçadão, preocupada com mais um atraso e mais uma provável repreensão patronal.
O que mais lhe doía é que aquele homem sabia das circunstâncias de seu divórcio, da solidão a que se impôs, amenizada, apenas, nas salas de bate-papo da Internet, até que o sono a derrubasse em cima do teclado do computador.
Mensageiro do amor/1.78m/72k. Já nas primeiras frases, soube ser moreno, engenheiro, master pela Universidade de Filadélfia, separado. Era tudo quanto precisava naquela noite. Não que se revelasse um Apolo entre tantos de mais de metro e noventa, freqüentadores de academia. Mas já nos primeiros escritos, a elegância no uso das palavras. Não havia dúvidas, era um homem de "bom tom", como sempre sua mãe dizia, na seleção dos futuros genros.
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MAESTRO
Maestro enchia as ruas de sons e aquilo me parecia mágico. Eu o seguia maravilhado e, a cada parada, Maestro era cercado pelas mulheres em maioria. O que as fazia acreditar no que liam era a esperança de que sonhos se realizassem. |
DEZ PASSOS PARA A FELICIDADE
No primeiro momento hesitou. Depois respirou fundo e procurou acalmar-se ouvindo as batidas do próprio coração enquanto procurava seguir as instruções do livro de auto-ajuda, recém- comprado, o qual dizia que sua mente poderia organizar suas emoções.
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Thursday, November 10, 2005
A PRIMEIRA NOITE DE UM VIRTUAL
– Vamos teclar...
Iniciava-se ali uma experiência inesquecível. Pelas coordenadas que iam sendo dadas, fui construindo letra por letra o desenho mágico da mulher loura virtual, belos olhos azuis, boca sensual emoldurando dentes perfeitos. O corpo... Ah! O corpo... Pelos números fornecidos, não tinha como me enganar: uma sarada freqüentadora das academias: 52 quilos distribuídos em 1,70 m.
As emoções se acumulavam nos fraseados de parte a parte, até que, inseguro por achar que poderia estar sendo invasivo, sugeri um jantar.
Recatada, aceitou, cercando-se de alguns cuidados. Natural que assim fosse. Afinal, tão bela mulher iria encontrar-se com um homem sobre o qual apenas sabia ser um virtual gentil de razoáveis escritos. Muita exposição colocaria em risco suas reais qualidades. Assim, creio, pensava...
Sugeri um restaurante de cuja janela tivesse a visão do colar de lâmpadas da Lagoa Rodrigo de Freitas, no Rio de Janeiro.Sugestão aceita, parti para os preparativos, com reserva garantida de mesa à, luz de velas, "Lanson" no gelo e o esmero na recomendação ao maître: que o Belluga se fizesse acompanhar de delicados e honestos blinis para que tudo transcorresse de forma a tornar a noite perfeita.
A cada carro que chegava, meus batimentos cardíacos mais se aceleravam. E temeroso que o calor neutralizasse o "Silences" borrifado no blazer que disfarçava os malditos quilos a mais, solicitei que aumentassem um pouquinho mais o ar-condicionado, mesmo diante dos olhares furibundos da senhora de uma mesa próxima já tiritando de frio naquela noite de junho.
Agora sim, era ela. Os louros e longos cabelos contrastavam com a negritude do interior do carro importado. Em passos firmes caminhou na direção da porta, fazendo-me levantar com um largo sorriso.
Não, não podia ser... Mas era.
Todos os olhares convergiram para a figura que acabara de chegar. Uma onda de calor deve ter envolvido a vizinha antes tiritante pela alegria na minha derrota.
Diante do ET que chegara, alguns devem ter imaginado um OVNI na porta do restaurante.
Bem, do virtual para o real, o salto tinha sido olímpico. Dos 52 quilos, era certo que 42 estavam na barriga e no busto. Os olhos azuis haviam marcado um encontro naquele rosto, mas se desencontraram, indo um para cada direção.
Pedi a Deus que me enfartasse. E que fosse fulminante, pois o maître se aproximava para espocar o champagne, o que chamaria ainda mais a atenção dos clientes distantes. Havia súplica no meu olhar para que não o fizesse. Tarde demais.
Diante do inevitável, deixei-me afogar num copo duplo de uísque numa talagada só, antes do brinde.
Homem educado pelos ensinamentos do meu pai de que o bom jogador se revela na derrota, deixei que a noite corresse, já que eu mesmo não tinha mais condições de fazê-lo. Se não pela educação que recebera, mas pelo estado de semi-embriaguês em que já me encontrava.
E a hiena ali na minha frente a mostrar os dentes inegavelmente perfeitos que me induziam a imaginar que estivessem presos com "Corega". Acrescente-se um mastigar interminável. Diria secular.
Impor-me maior sofrimento do que já vinha tendo só se com a intenção da absolvição plenária das penas do purgatório que tanto fiz por merecer. Pedi a conta. Entre salamaleques, o maître esticou-me o papel: 698 reais.
E foi quando me bateu no ouvido tal qual um "telefone" do DOI-CODI a sugestão:
– Que tal esticarmos...
Entre os dentes, fugiu-me a frase: "Esticar só se for no asfalto...”.
Traíra-me o inconsciente e já me via cercado por passantes curiosos, cobertos por plástico preto, iluminado pelas velas trazidas de mesa do restaurante.
Acredito que ela não tenha escutado tal indelicadeza, mas a idéia avançava na medida exata em que automóveis e ônibus passavam em velocidade. Se Deus me poupara do enfarte, quem sabe?...
A noite fora lenta e longa.
Reuni o resto das minhas forças nos dois beijinhos de despedidas. Nesse momento pensei em minha mãe a olhar-me de uma das galáxias que por certo habita, orgulhosa dos ensinamentos.
CONFLITOS
Sim, pode um dia voltar do coma, esclarece compassivo o médico. Há casos e mais casos... São boas as possibilidades. Mas, certeza? Nenhuma... E voltando à consciência, pode perder a memória elétrica, e a química, registradoras de fatos recentes e de pouca importância. Mas a memória protéica, guardadora de tudo que é importante no transcorrer da vida, será preservada. Trate-o bem, o corpo tem imprevistas e surpreendentes reações. Está bem, fisicamente, as fraturas se consolidaram. Louvo sua decisão de levá-lo para casa. E, precisando, ligue... Deixe-me sempre a par do estado dele...
(Co-autora Maria Ilsen) |
A DESPEDIDA
Dirige-se à estante, o olhar perdido entre o amontoado de recordações e lá está a caixa, o ossuário de amores vividos e perdidos, fragmentos da vida que vê esvair-se a cada despedida. Sobre a mesa, ainda a última carta, escrita minutos antes. A incredulidade mistura-se às lágrimas, embaçando a própria vida...E a palavra adeus surgindo como abstração de si mesma, da conflituosa existência... Carta tão igual a tantas outras em esfarrapadas explicações e justificativas pelo amor que finda... E que a deixam assim, frustrada, sensação de derrota, de inutilidade... Tantos os homens que tinham estrado em sua vida e assim a deixam...Espalhados na solidão cinza do quarto, os objetos marcas das paixões... Chamado, que chamado? |